segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Papai fez 80 anos....

Tudo estava indo bem, pensando nos limites e possibilidades do estado de saúde de papai.


Chega o tão esperado dia do aniversário. Poxa, papai conseguiu completar 80 anos.


Não foi um dia comum, claro, afinal são 80 anos.


Lembro quando ele tinha 40 anos e eu com os meus 8 anos o achava um idoso. Não sei o que passa na mente das crianças onde todo mundo que é adulto é considerado “velho”.


Mas ele era um jovem senhor de 40 anos. Boêmio, cheio de vida e que adorava o cotidiano, a rotina de ser pai. Levar na escola, ajudar nas tarefas, contar estórias na hora de dormir, ensinar a dançar, jogar dama e dominó. Na verdade aprendíamos a jogar, mas ninguém ganhava dele, nem de mamãe. Era um verdadeiro desafio.


Quanto a dançar, minha irmã era considerada a melhor dançarina. Minha desculpa era: Ah! Também ela fez ballet......Quando a gente não sabe dançar...qualquer desculpa serve.
Toda essa conversa para dizer da tristeza que foi a tarde e noite do dia 21 de setembro. Papai passou muito mal e foi internado na UTI.


Parte o coração deixar seu “bebê idoso.... sozinho” na UTI fria, congelada de um hospital, depois de mais de um mês de cuidados em casa. Uma sensação terrível de impotência, de completo vazio.


Voltar para casa e ele não está lá...O vazio é maior ainda porque a chegada de papai com o sistema Home Care transformou a rotina da casa.


O movimento constante de pessoas, profissionais da área de saúde entrando e saindo de casa, sempre contribuindo, deixava a casa com um certo encantamento. Estávamos todos construindo formas para tornar possível a arte de sobreviver com mais humanidade em tempos difíceis.


As amizades construídas, os afetos, as trocas, as brincadeiras.....Tudo em torno de um objetivo maior.Proporcionar a papai melhores dias mesmo diante das dificuldades.


O médico brincalão, carinhoso, humano. A fisioterapeuta que papai adorava e sempre a recebia com um lindo sorriso. A técnica de enfermagem (D. Edite) que foi também nossa mãe nos guiando nas alegrias e nas tristezas, nos dando conforto sempre nas nossas dores. As cuidadoras, Maria e Verônica, e o enorme carinho e afeto por papai. Selma querida, que tudo organizava e sempre estava lá com um lindo sorriso para papai. Aninha que animava todo mundo, inclusive seu B (meu pai e seu avô). Sérgio, que sempre estava lá buscando uma prosa com seu B.


Agora que ele voltou ao hospital, já está no quarto. Não sabemos por quanto tempo. Pode ser uma estadia curta, longa. Não sabemos.


Sabemos é que o amamos muiiito. E sempre digo para ele. Você não vai ficar só nunca. Não tenha medo.


Sei que ele entende porque ele aperta forte minha mão.


As forças são mínimas, muito debilitado pela doença. Mas o coração bate forte.


O guerreiro que não desiste da luta...O que fazer diante de tantas dores!? Ser guerreira também e ficar junto, não abandonar o barco.......


Nessas horas chegam as lembranças de uma vida.....


- quando ele me deixou na pré-escola (primeiros dias) e eu fiquei chorando, e a alegria ao vê-lo chegar mais cedo junto com minha mãe para me buscar.


- os passeios de lambreta, ainda pequena.


- quando virava sentinela no terraço de casa, na época dos namoros.


- quando me esperava tarde da noite da volta do cursinho na parada de ônibus.


- ele orgulhoso junto de mim na colação de grau na universidade.


Lembranças e aprendizagens para a minha e outras vidas...


Obrigada meu pai.......



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