quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O que fazer quando eu recebo um trabalho CRTL C + CTRL V? Autoria, pirataria e plágio na era digital: desafios para a prática docente











Outro dia estava ouvindo uma amiga professora falar sobre o que ela fazia para descobri se os trabalhos dos seus alunos eram copiados da internet. Então lembrei dessa entrevista do Professor Sérgio P. Abranches que discuti justamento o que fazer com um trabalho copiado da internet.Penso que as reflexões do Professor podem nos ajudar a interagir com esta temática tão atual.
Assim, com a devida permissão, abro espaço para a entrevista com Prof. Sérgio P. Abranches ,publicado na revista eletrônica: www.multirio.rj.gov.br/riomidia


1) O que muda, de fato, na produção docente e discente com o acesso à
internet? Na avaliação do senhor, os professores e os alunos estão sabendo
tirar proveito de todas as possibilidades da web?

A internet tem se apresentado como um grande campo de práticas distintas e
diversas, com ampla possibilidade para a educação. Entretanto, isto não
quer dizer que haja um aproveitamento de suas possibilidades, tanto por
alunos como por professores. É preciso ainda um processo de formação
específica para o uso pedagógico da internet, como de todas as atuais
tecnologias da informação e comunicação a fim de que a educação possa
aproveitar destas possibilidades. Em pesquisa recente, realizada por
orientandos meus, observamos que já há uma familiaridade com o uso das
tecnologias por parte dos professores, mas isto não significa que estes
mesmos professores estejam utilizando as possibilidades que a internet nos
apresenta. Do mesmo modo, observamos nos alunos que o uso da internet
ainda é muito restrito em se tratando de questões educacionais. Mesmo que
haja uma maior familiaridade por parte dos alunos com as atuais
tecnologias, tal situação não redunda em grande proveito para a
aprendizagem. Por outro lado, precisamos destacar o crescente número de
projetos que buscam incorporar tal uso às práticas educacionais. Penso que
é por aí que conseguiremos identificar quais possibilidades que a internet
oferece e que poderão ser aproveitadas pela educação. Somente como
exemplo, penso que a pesquisa acadêmica tende a ser profundamente
dinamizada com a internet, bem como a aprendizagem colaborativa.


2) A web traz uma nova definição/configuração para o que seja autoria,
pirataria e plágio? O que mudou?

Em um certo sentido, creio que há uma modificação nestas definições. Mas
depende fundamentalmente do tipo de uso que se faz da web. A questão da
autoria – e os seus contrapontos da pirataria e do plágio – ganha uma nova
significação com o uso da web. As formas colaborativas de produção via web
introduzem uma nova conceituação do que seja autor. Tomemos como exemplo
as diferentes experiências do tipo wiki, desde enciclopédia até pequenos
glossários. Se tais práticas forem direcionadas pedagogicamente, podemos
suscitar o aparecimento de um autor coletivo, não mais um sujeito único e
que não é simplesmente o resultado da soma de diferentes partes, mas sim
daquela interatividade proporcionada pela web. Com isso, questionamos
também o que seja plágio ou pirataria. Estas duas últimas situações
reproduzem concepções de conhecimento e de prática pedagógica que não se
coadunam com um uso pedagógico da web.
Deste modo, falar em autoria na web pode simplesmente reforçar a forma
como tradicionalmente entendemos o que seja identidade (veja-se, por
exemplo, o uso que muitos autores e jornalistas fazem dos blogs), ou então
significar, a partir de uma proposta pedagógica diferenciada, o surgimento
de um autor coletivo, colaborativo, participativo e aberto a novas
elaborações.
A questão da autoria na web é muito séria, por isso acredito que nós
educadores devamos enfrentá-la corretamente, pois parte de nosso trabalho
é “mexer” com as identidades.


3) Neste ambiente, o que é autoria nos dias de hoje?

Bem, isto é muito difícil de se definir. Em primeiro lugar, devemos
considerar que a própria produção de conhecimento é uma reelaboração de
conhecimentos já estabelecidos socialmente. Assim, autoria não pode ser
entendida como aquilo que me distingue dos outros. Ao contrário, em um
contexto globalizado, multicultural, o que me identifica pode ser
exatamente aquilo que me aproxima, me coloca em relação com o outro e com
os outros. Autoria passa então por uma transformação: não é mais o sinal
de minha presença exclusiva neste mundo, através de uma obra única e
intransferível, mas sim o que me coloca diante de tantos outros e que,
nesta situação, marcam a minha identidade.
É claro que precisamos tomar cuidado para que esta nova situação não seja
o sinal da desresponsabilização, do “esconder-se para não se comprometer”.
Portanto, é muito mais exigente, pois não se limita a dizer o que é e o
que não é. Penso que estejamos próximos da passagem da autoria clássica
(definidora de uma identidade única) para uma “alteria” (uma identidade
construída com o outro).


4) Neste contexto de produção acadêmica, que regras devem ser
estabelecidas entre professores e jovens? Estes últimos nascidos num
contexto global e midiático, onde todas as informações estão ao alcance de
um simples clique.

É importante pensarmos em regras na produção acadêmica. Mas penso que
primeiro devemos pensar em novos projetos, novos contratos didáticos,
novas formas de produção do conhecimento. Os jovens já nascem neste
contexto, são digitais. A maioria dos professores ainda pertence a uma
outra geração, analógica na sua forma de ser e de produzir conhecimento.
Esta contradição precisa ser por nós enfrentada. Neste sentido, uma
questão básica, que não me arrisco a dizer que seja uma regra para a
produção acadêmica em tempos midiáticos, deve ser a partilha da produção
do conhecimento. Não estou falando aqui da socialização do conhecimento,
algo muito importante. Falo do processo de produzir conhecimento; este
deve ser partilhado, cooperado. Os grupos de pesquisas precisam incorporar
esta atitude, não só como metodologia de trabalho, mas como forma de
produção, e assim incorporar o “modus operandi” desta geração digital,
tecnológica. Outro elemento que eu apontaria é a ampla divulgação desta
produção. Os jovens, quando se dispõem a produzir seus conhecimentos
academicamente, procuram sempre estas referências, e não podem se
relacionar com elas como se fossem estacas fixas, imóveis. Ao contrário,
devem percebê-las como incentivadoras.
Citaria também a necessidade de inovação metodológica. Este é um aspecto
que ainda estamos deixando de lado. Precisamos inovar nossas concepções
metodológicas e nosso fazer. Esta sim creio ser uma regra a ser colocada
por aqueles que pretendem contribuir com a educação e com o conhecimento
de um modo geral.

5) O que o professor deve fazer quando recebe um trabalho CTRL C + CTRL V?

Em primeiro lugar, creio que o professor deve fazer o maior esforço
possível para não receber um trabalho Ctrl C + Ctrl V. Em outras palavras,
o professor deve se preocupar em preparar suas atividades de modo que esta
possibilidade não seja viável. Dizendo de outro modo, a questão para mim
está na maneira como o professor propõe as atividades aos alunos.
Qual é a diferença entre este tipo de trabalho e aquele que nós fazíamos
antigamente copiando longas páginas das enciclopédias que nossos pais
compravam à prestação, dizendo para nós que ali estava tudo o que
precisávamos saber/aprender? Sim, é claro que tem diferença, mas na minha
opinião muito mais na forma e na dinâmica do que no conteúdo e na
aprendizagem.
Neste sentido, a primeira questão que o professor deve fazer é refletir
sobre o que ele propôs aos alunos e o modo como ele propôs. Aí está a raiz
da questão. Se o aluno não foi convocado para ser autor-colaborador
daquela atividade, ele não se sente com o compromisso de produzir nada que
seja dele, ou a partir dele. Nesta situação, é muito mais fácil e cômodo
“dar uma googada” (de google), como dizem os mais novos.
A segunda questão é pedir ao aluno que explicite o seu processo de
produção do conhecimento (que questões ele levantou para fazer tal
trabalho, que fontes ele buscou, qual o tipo de análise que ele fez), caso
isto não tenha sido apresentado anteriormente. Deste modo, pode-se
refletir sobre o processo e não somente sobre o resultado.
Uma outra questão é o confronto com outras produções de outros alunos. Não
quero aqui propor que haja um conflito, um embate, mas sim que haja uma
troca, uma reflexão conjunta apontando os elementos que distinguem,
caracterizam as diferentes produções.
Sei que ao dizer isto não posso me esquecer do volume de trabalho dos
professores, particularmente os que atuam na educação básica, fato este
que dificulta uma análise e mesmo uma atenção mais particularizada aos
alunos, impedindo então que se possa fazer tal processo, pois demanda
tempo.
Por isso, evitar que tal procedimento aconteça partindo de uma nova
proposta pedagógica

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