sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Esperanças e Libélulas.






Final de ano, fechamento de ciclos.
O baú de memórias é aberto
Ah!!!Quantas recordações!!!!
O tempo tem o poder de guardar pra gente recordar.
Penso que mais um ano passou com todas as situações esperadas e não esperadas.
Uma coisa é certa. Aprendemos muito. Mais do que antes e menos que o futuro.
Sobre trabalho: salutar, ressignifica o dia a dia.
Sobre filhos: quanto mais crescem, mais os amamos. Um amor incondicional mesmo.
Sobre amor: reaprendemos que ele nos dá forças para fazer tudo na vida. É a mola que nos impulsiona.
Sobre a vida: muito legal viver de bem com ela.
Estes momentos me fazem lembrar de Zé da Silva. Um adolescente que viveu pouco, mas intensamente.
Quando trabalhava com meninos e meninas de rua, conheci Zé.
Pensem em uma figura fantástica.
O seu sonho: aprender a ler e escrever.
Esse sonho foi realizado nas aulas todos os dias à noite comigo e com outra Ana(grande amiga e educadora), nas calçadas do INSS, onde tentávamos ensinar as crianças que moravam na rua a ler e escrever.
Zé foi e sempre será o nosso orgulho. Não conseguimos falar dele sem chorar com saudades daquela criatura linda e sempre sorridente.
Soubemos da sua morte assistindo o Fantástico em um domingo à noite.
Com todas aquelas características, só existia um Zé da Silva.
Através do seu esforço e desejo, aprendeu a ler, escrever e a participar intensamente do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua.
Percorreu o Brasil e outros países representando os meninos de Pernambuco e do Brasil pelo Movimento. Morreu defendendo e organizando os meninos da comunidade de Peixinhos.
O amor....Esse amor que move as forças. Era esse amor pela causa das crianças de rua que movia Zé da Silva.
Quando descobriu o poder das palavras, dos argumentos, da escrita, não existiam mais limites para Zé. Lembro que um dia ele disse: “Não sei ler simplesmente, Sei ler a vida”.E acrescentou para mim e para a outra Ana: “Vocês não são professoras, são mais que isso, são educadoras”.
Penso que Zé se tornou um educador e ele entendia que a ação educativa é ressignificada com o compromisso, os desejos, os sonhos de mudanças. Porque não dizer esperanças.
Quando percebeu a força do povo organizado, começa a mobilizar na sua comunidade os jovens em torno de questões ligadas a juventude, direitos, deveres e trabalho.
Alguém resolveu tolher os sonhos e esperanças de Zé brutalmente. Não consigo entender como a força bruta teima em tentar vencer a força do amor!!!! Sabe lá.......
Um dia socorri Zé. Ele vomitava muito.
Quando chegamos no hospital da Restauração, as únicas palavras que Zé dizia eram: “Minha sopa tia..... Perdi minha sopa.”
Ele estava muito triste por vomitar a única refeição que tinha conseguido fazer naquele dia e que provavelmente teria causado o vômito.
O mal estar maior de Zé era ter perdido a sopa.
A única coisa que acalmou Zé foi dizer para ele: quando você melhorar vamos tomar uma sopa.
Hoje, sinto uma saudade imensa de Zé e de todos os meninos e meninas que morreram muito cedo, mas que deixaram esperanças, certezas e exemplos de vida. Pessoas que fizeram a diferença diante de toda adversidade, pela simples razão de existir e não aceitar as desventuras, mas enfrentá-las, cada um do seu modo.

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